sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Vida

A vida esvai-se pelo ralo.
Vai-se pelo encantamento dos canos,
água intangível perdida nos anos
que logo habitará o oceano
das lágrimas que derramei em vão.

Em rigoroso desacordo,
sonhos e desesperos,
alegrias fugazes e amores quase inesquecíveis,
trevas e desilusões,
alimentam o milagre do mundo,
que gira também para os opostos.

Opostos que se atraem,
como me atraem teus olhos de mel
e tua boca mascava, que molha a mel e rega pensamentos.
Anos de eletricidade intrínseca,
a agitar os mares de minhas veias,
bombeando a alma, florescendo a paixão
e o deslumbramento.

Asas e grilhões, num navegar perene,
entranham-se no ventre dos peixes,
seres de prata luminosa e de sal profundo.
Fontes de vidas que virão,
para esvaírem-se nos ralos encantados,
em lágrimas de dor e de esperança,
que vêm e que vão,
como as marés das incertezas.


Chile, fevereiro 2008

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